terça-feira, maio 17

Sentidos

Visão




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Olhando tudo que se pode olhar: vendo azul, amarelo, barco e céu. Que forma de perceber mais real e menos palpável que existe! Olhando, geralmente eu constato que é verdadeiro este ou aquele objeto, enquanto que em outros sentidos a minha sensação não é exata. É forte, mas não exata. Então eu não sei mais se janela da alma ou objeto fisicamente perfeito o meu globo ocular é, mas me garante um sentido gratificante, pois gozo do mundo sem senti-lo em gosto, cheiro ou tato. Eu vislumbro alcances inatingíveis pela boca ou por meus curtos braços e nariz, sem mesmo sair do lugar. Mesmo assim, sinto que é pouco, às vezes, somente ver, saborear ou cheirar. Isso por que gosto da mistura, por que ninguém se satisfaz com pouco, que pode ser muito, para muitos. Não sei. Olho grande, gulosa, o que for em busca de totalidade de sentidos, de sentir vida



 

quinta-feira, maio 5

De repente você voa


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Eu senti os cabelos grudados no rosto, o vento batendo contra os olhos. Foi de repente. Os cabelos soltos voando para o céu e o corpo se elevando, arfando com leveza um suspiro que alça vôo. Eu retorci o corpo e virei o chão de cabeça para baixo sentindo o vento querendo me levar. Ali parada e tudo em movimento, inclusive eu. É difícil explicar como alguém parado se move com o vento, mas se o suspiro te impregnar de alívio, você voa.





 



 

segunda-feira, maio 2

Piedade


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Piedade de mim que só escrevo o que me transborda.  O que emerge, forçosamente, de uma timidez literária que se fez presente por um bocado de anos, ainda não é o que no fundo pesa. Piedade, por que com ela me angustio menos por não conseguir escrever o que sinto, e que nem chego a pensar. Não penso se escrevo, procuro sentir; mas se penso, por favor, piedade! Quando penso por muitas passagens de horas nesta tarefa a que me dedico por prazer, pressinto que muito distante passará a sensibilidade do que realmente deve ser escrito. Então, que não seja pensado o que transbordar. Por enquanto, que seja sentido. Até mesmo escrever não será ato, e sim, sensação. Sensação de excesso que se acomoda fora do que aperta, que se adapta, alegremente, à folga de uma página em branco.

domingo, maio 1

Sentidos

PALADAR
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A língua, os beiços, a mucosa toda da boca, aquele conjunto róseo e macio que transmite o gosto das coisas. Aquele aparato móvel e também imóvel que se debulha em saliva lacrimejante de anseio, desejo e gula. O paladar do mundo todo passando pelos dentes, pelos lados das bochechas, passeando preguiçoso pelo céu da boca, o céu da satisfação. Qualquer gosto se encontra com a língua e impõem uma postura para degustá-lo para depois ir embora. A vontade de permanência do que se sente, confrontada com a saciedade estupidamente real da capacidade orgânica do corpo. Com o paladar se tem uma noção ampla de que sentir não é orgânico nem corpóreo, por que sentir tem uma prerrogativa de infinito que fica limitada pela humanidade. Gula não é pecado, pecado é sofrer conseqüências por isso. O gosto que fica impregnado na língua, que se esfrega nos beiços rudimentares de uma vontade instintiva e arcaica de sobrevivência do prazer. Pecado é tornar isso finito, justamente pelo tamanho do estômago.