sábado, abril 30

Sentidos

TATO
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Uma pressão leve que pode deslizar mansa por toda a superfície ou interromper-se forte, bruta ou então mais leve ainda. Uma noção vaga de contato que embora mútua é individual em sensação, pessoal em percepção, que se desfruta em companhia.Um derreter de manteiga pela face quente ou de gelo também, escorrendo entre os dois que se tocam. Suavizando os pêlos que se roçam contínuos, ou avermelhando a pele que se cora rápido. O toque pode áté mesmo parar, mas em idéia persiste para depois ser refeito, continuando a percorrer o corpo. Não se abre como flor ao toque, qualquer superfície, se fecha em um lugar tal particular, inatingível, tentando tornar aquele gesto inacabável. É neste lugar que não se alcança, que a idéia persiste se fazendo querer, se desejando tocar e ser o próprio contato. O que mais sobra é vontade de que continue. A sensação do contato acaba rápido e só permanece uma vontade de reencontro, que seja de mãos, braços, qualquer parte derretendo ou se corando, mas tocando.

sábado, abril 23

O Fruto Pródigo

Volta a tua casa e retoma a tua vida
Por que os filhos se farão pais
E de nada lhes bastará a vida sem os seus.
A raiz se orgulha de suas folhas
Pois delas se fará o viço da árvore
E assim a família permanecerá erguida
Resistirá às tempestades e secas que a abalará
Mas folhas, nunca deveis esquecer seu finco
Nunca deverão pensar-se capazes de ainda criar árvores
Aguardem ser fruto
Esperando certas de que esta muda se fará perto da raiz
A primeira a manter a união do bosque, da mata,
Da família

quarta-feira, abril 20

Para o meu bem

Escuta, lê, tateie, mas entenda!

Meu bem te quero à tarde e querendo me passo ao longo dela, pois só eu consigo passar nesse dia. O céu traça um arco ligeiro demais, o vento sopra as nuvens longe da
minha vista ansiosa. Tentando passar tudo, sem conseguir. Provando o amargo para
esquecer o gosto de boca que não desaparece, por que apenas ficou.
Que gosto forte que tem, meu bem! Já seria a hora disso ter passado, mas não.
Vejo à noite, que não passei, nem você por completo, e nada passa por que ainda quero
e insisto em querer. Já havia me dito que sou teimosa. Ora! Que eu seja! Teu gosto
também é, e só é gosto, nem presença se pode chamar.
Ainda te quero na madrugada enquanto confesso ao travesseiro, ao chão, ao teto, que te quero. Te quero todo, por que já por ter só teu gosto não me contento, quero dizer,
tuas partes não me saciam sós, mas em conjunto. Somente teu comando, teu senso de vida ordena o meu e não consigo passar sem ele pelo mundo. Sem ele sou um vagamundo que não consegue passar pela vida. Parado, fica farejando o resto de senso que sobrou ou que
fisga em uma esquina. Parado, deixando o mundo passar.
Meu bem, você passa e eu, não. Por que?
E sem passar que pessoa errante, que vagamundo posso ser? Sem teu senso fico assim: passando indefinidamente por uma mesma faixa de existência parada no momento do teu
passar em potencial. Sou disco arranhado, ou a agulha da vitrola que volta
incessantemente ao mesmo lugar tentando se unir à música que dá sentido a seu
propósito.

Escutou, leu, tateou? Agora me diz que entendeu!

segunda-feira, abril 18

Tudo, quase tudo ou nada

Quem de tudo um pouco já não viu
Pode antes que o mundo acabe tentar ver
Num paletó com colarinho branco a honestidade
E em qualquer um a lealdade para com outro ser

E quem já acha que um pouco de tudo viu
Não pode esquecer de com calma no espelho se olhar
De catar na forma que vê
A vida tão pura que um dia quis pregar

E quem sem nada ver passou a vida
Deve com calma pensar
Que como cão com rabo entre as pernas
Viveu e que não terá lembrança pra guardar

Mas quem ainda não viveu, fazer o que?
Com os olhos bem abertos olhar, e ver
Sem achar que tudo já foi visto, mesmo sem se querer
E pela vida que escolher poder se orgulhar

sábado, abril 16

Eis que nasce um blog

Texto de abertura, que fielmente foi criado no período Matinas, ou Vigiliae.

Para orientação do leitor, mesmo que confrontando com regras originárias da descrição
da vida monástica em Les Heures Bénédictines, de Edouard Schneider, coloco como
horário básico de criação dos futuros escritos deste blog o período entre 2h 30min e
3h da madrugada.
Esta é uma mera brincadeira com minhas horas mais criativas, digamos.
A proposta é escrever, como antes, agora, e sempre, pensando basicamente em arte.
Que seja a arte do cotidiano observado e vivido, das belas artes, de tudo que se
pode admirar.